O que esperar de 2017

Por Aldo Dórea Mattos

Aumento de juros, crédito restrito, desemprego em todos os níveis, escândalos e recessão. Você já viu esse cenário? Em 30 anos de formado eu já vi – e vivi – cenários assim pelos menos umas 4 ou 5 vezes, em diferentes graus de severidade.

Minha impressão é que esta não é a última crise e que a hora é de se preparar para um cenário de economia aquecida, investimentos e oferta de bons salários que, ainda que demore até 2018, já dará sinais de melhoras ao longo de 2017. Pior do que está, acho difícil ficar.

As razões para minha crença numa recuperação em 2017 são várias. Em primeiro lugar, o estrago maior já foi feito. As grandes construtoras, atingidas frontalmente pela Operação Lava Jato (aliás, cujo nome correto deveria ser “Lava a Jato”), demitiram praticamente todos os profissionais que tinham de demitir e, num cruel efeito dominó, já afetaram a saúde de subempreiteiros, fornecedores e prestadores de serviço. Em segundo lugar, a construção civil é o motor do país e a infraestrutura não pode parar de receber investimentos. E em terceiro lugar, estamos presenciando um rearranjo institucional que, ainda que leve algum tempo para se consolidar, já dá sinais de estar em marcha.

Rearranjo das empresas

A esse rearranjo institucional eu me refiro a uma nova composição das empresas no cenário das grandes e médias obras.

Pensemos pelo lado dos bancos. Banco vive de emprestar dinheiro. Não havendo mais tanta demanda por parte das grandes construtoras, que tiveram sua capacidade de endividamento esfrangalhada, o crédito será destinado a quem possa apresentar garantias e tenha boa higidez financeira. Quem são essas empresas? São empresas de porte médio que conseguiram ao longo do tempo resistir à tentação de viverem alavancadas por empréstimos.

Pensemos pelo lado dos investidores. Se você fosse gestor de uma considerável massa de dinheiro, você preferiria investir na aquisição de uma empresa (ou de parte dela) agora no período de baixa ou quando o mercado estiver aquecido? Obviamente que agora – e o mercado já está vendo essa movimentação. Eu mesmo já me envolvi em alguns projetos de avaliação de empresas e due diligence de obras para recomendações a investidores estrangeiros. O que esses investidores querem, por força de suas boas práticas de compliance, é adquirir participação em empresas que possam mostrar boa governança e que tenham capacidade de crescer a médio prazo. Quem são essas empresas? As grandes? Não, as médias e pequenas que possuam razoável acervo de atestados e, de preferência, bom trânsito junto a clientes importantes.

Minha primeira recomendação
Conhecendo o cenário atual e o que prevejo que vai acontecer num futuro próximo, eu arriscaria fazer duas recomendações para quem quiser se recuperar dessa crise e crescer mais rápido.

Minha primeira recomendação é: invista em concessões e PPP.

O déficit de infraestrutura é considerável no Brasil. Os recursos governamentais disponíveis para aplicação em obras e serviços públicos não conseguem acompanhar o aumento das demandas. Essa crônica escassez de recursos por parte de estados e municípios — alguns até já estão quebrados — faz com que se busquem soluções alternativas de investimento. Uma delas é recorrer às concessões e parcerias público-privadas.

Através desses dois mecanismos, a Administração Pública delega a um particular — que pode ser uma empresa ou um consórcio de empresas — a prestação de um serviço público na área de saneamento básico, resíduos sólidos, iluminação pública, transporte, mobilidade urbana, estacionamento público, hospital, escola, cemitério, terminal rodoviário, etc. O particular, com recursos próprios (equity) e com dinheiro proveniente de financiamento, constrói a instalação em questão e depois se encarrega de operá-la e mantê-la por uma determinada quantidade de anos, sendo remunerado pela tarifa cobrada dos usuários do bem (pedágio, por exemplo) ou por remuneração pela própria Administração Pública (presídio ou estação de tratamento de esgoto, por exemplo).

Em poucas palavras, a diferença entre PPP e concessão reside no fato de que na PPP a tarifa sozinha é insuficiente para remunerar os investimentos ao longo do prazo de concessão, sendo necessário ao Poder Público complementar a remuneração por meio de aportes periódicos.

Eu acredito que infraestrutura do Brasil só se destrava com uma maior participação do setor privado. O desafio é contar com garantias sólidas de que o Poder Público honrará o pagamento de sua contrapartida, motivo pelo qual se buscam créditos “carimbados” de royalties, receitas recorrentes e até a criação de um fundo garantidor.

Essa estrutura dá mais segurança a quem investe e permite a execução de obras mais rápido. Além disso, mecanismos como mediação e arbitragem podem ser usados para a resolução de controvérsias entre concessionário e poder concedente e, o que é uma maiúscula vantagem, pode atrair investidores que não são necessariamente construtores: empresas de participação, investidores, fundos de pensão, etc.


Minha segunda recomendação
 

Minha segunda recomendação é: internacionalize-se. Esse conselho vale para profissionais e empresas.

Por que ter abrangência apenas nacional? Não é assim tão difícil participar de licitações em outros países, principalmente da América do Sul e da África. Levando-se em conta que projetos financiados por organismos multilaterais como BID e Banco Mundial sempre são objeto de licitação internacional, este pode ser um bom caminho a trilhar.

Estabelecer consórcio com empresas locais que precisam de atestados de capacidade técnica também pode surtir bons frutos, principalmente se aquela empresa vir na construtora brasileira um parceiro para relacionamento constante.

Nesse trânsito do mercado de construção internacional, eu sugeriria uma capacitação em duas linhas: inglês (ou espanhol, mas primeiro inglês) e contratos Fidic. Os contratos Fidic são modelos criados pela Fédération Internationale des Ingénieurs-Conseils, entidade que define padrões de contratação para a indústria de construção. Há várias modalidades de contrato: preço unitário, EPC, projeto, subcontrato, etc. A grande vantagem de se conhecer a mecânica dos contratos FIDIC é que eles são muitíssimos utilizados internacionalmente. Quem sabe manuseá-los pode mais facilmente se aventurar em projetos de construção fora do Brasil, abrindo um mercado promissor e, às vezes, mais rentável que o interno.

Fonte: http://techne.pini.com.br

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